Campinas, 18/07/2006
zzzzzZZZZZZzzzzzz ..... de repente acordo um tanto que zonzo. O que será que aconteceu? Porque minha cabeça está girando? Abro os olhos e deparo-me com um relógio de parede marcando 9:40. Percebo que estou deitado em sei lá o que ... uma cama ... ou algo do gênero. Olho para os lados e avisto mais três pessoas na mesma situação que a minha. Duas delas estão desacordas e outra acordada, mas dá para perceber que sua cabeça também está girando. Agora percebo que me encontro em um hospital. Percebo que há três coisa conectadas ao meu corpo. Um presa em minha mão direita segue até um frasco de soro. Outra na mão esquerda segue até um deste aparelhos que verificam sinais vitais. Aquele que ritmamente faz beep ... beep ... beep ... e que mostra uns números e um gráfico. O último deles está preso ao meu pescoço e segue até um recipiente plástico em forma cilíndrica achatado. Dentro dele é possível visualizar um líquido vermelho. Alguns minutos se passam ... parecem que se passaram horas ... alguém se aproxima. Verifica algo na pessoa ao lado. Aquela que também estava acordada. Mais alguns minutos se passam. As outras pessoas começam lentamente a acordar. Mais uns minutos e alguém se aproxima de mim. Verifica algo e afasta-se. Mais alguns minutos ... outra pessoa se aproxima ... verifica algo de novo ... e mais uma vez se afasta. Mais alguns lonnnnnnnnngos minutos de desinformação, cabeça girando. De repente percebo que uns dos aparelhos, aquele dos sinais vitais, começa a emitir beeps em um rítmo alucinado ... um rítmo frenético ... consigo agora o avistar ... ele pisca loucamente também. Em um rápido momento de perfeita lucidez percebo que é o aparelho que estava a mim contectado. O que significa aquilo? Sabemos muito bem o que significa nos filmes e séries da TV. Finalmente percebo que alguém estava próximo e que agora minha mão esquerda estava livre.
uuufffaaaaaa!!!
Consegui avistar que já eram umas 10:45. Pouco mais de 1 hora, mas pareceram um eternidade. A mesma pessoa aproxima-se e começa a arrastar a maca em que eu estava ... portas ... corredores ... mais corredores ... mais portas ... finalmente alguém que me é familiar surge. Era minha esposa. Ela aparece com um sorriso. Deve estar tudo bem. Finalmente chego a um lugar ... bom ... acho que �isso que chamam de enfermaria. A primeira impressão não é boa. Transferem-me da maca para uma outra maca. A cabeça ainda gira ... gira ... gira. Sei que minha esposa puxou uma cadeira e sentou do lado. Conversamos alguma coisa. Não consigo lembrar-me o contedo do diálogo. Por alguns momentos eu cochilo e volto a acordar. Ela encontra-se no mesmo lugar. Mais uma vez conversamos e voltei a cochilar. E assim continuou até umas 14 horas. Finalmente acordo e desta vez já estava bem melhor. A cabeça já não girava e eu consegui manter-me acordado. Agora recordava perfeitamente o que acontecia. Estava ali para uma cirurgia que a muito vinha programando. Posso falar sobre o motivo em um outro momento.
Lembrava também que dias antes fomos informados que meu plano de saúde era para internação em enfermaria. Sendo assim, ficaria internado num mesmo quarto que outro paciente. Além disso, ficamos conhecendo as regras do hospital. Um hospital que iniciou suas atividades em 1881, tem mais de um século de existência. Seu regimento interno prega que não é permitida a presença de acompanhante em enfermaria. Prega também que o horário de visitas é de 14:30 às 15:30. Lembro também de ter tentado manter um diálogo com o hospital. Lembro de ter tentando verificar as possibilidades de ter uma acompanhante durante o período de internação. Logo a conversa mudou de tom e me passaram para outra pessoa. Esta por sua vez, num tom de empolgação, logo vai falando: "Você pode pagar uma pequena diferença de R$ 240,00 + taxas - de sei lá o que - por dia". Deve ser para ser transferido para um hotel 5 estrelas com todo o aparato hospitalar.
Voltando a enfermaria ... naquele momento começamos a conversar. Ela perguntou sobre a cirurgia e eu não soube informar nada além da entrada na sala de cirurgia e pouco mais de 5 minutos lá dentro. O médico logo apareceu no quarto e falou um pouco sobre o procedimento. Tudo havia ocorrido como o programado. Logo saiu. Nossa atenção se voltou para o ambiente em que estávamos. O quarto não tinha uma boa aparência. A tinta na parede, dava para avistar umas três camadas, pelo menos. Estava descascando. O piso, embalado no mesmo espírito, era possível ver que haviam duas camadas distintas e visíveis. Havia mais uma cama, que estava vazia. Havia também um banheiro, uma janela de onde podíamos avistar uma parede, um armário, duas mesas e uma cadeira. Telefone não havia. Segundo o hospital, para promover tranqilidade ao paciente. Ligamos a TV e descobrimos que estavam disponíveis alguns canais interessantes da rede Tele Cine. A TV não foi mais desligada até minha saída.
Eram 15:40 quando surgiu um dos seguranças solicitando a saída de minha esposa. Educadamente ele aguardou ela sair. Daquele dia só lembro mais que assisti TV, fiz duas refeições e, eventualmente aparecia alguém que entrava, injetava alguma coisa através do troço preso a minha mão direita e saía. Mal falava. Na verdade, falavam - a contra-gosto - quando eu perguntava o que injetavam. Às vezes, verificavam minha pressão. Eram raras as pessoas que falam comigo por conta prória. Coisa do tipo: "bom dia", "isso aqui é tal coisa, serve para isso", ...
Campinas, 19/07/2006
Amanhaceu. A TV continuava ligada. Algum tempo depois alguém aparece. Mais alguma coisa injetada. Logo sai. Mais algum tempo. Eram 8:30 quando o médico apareceu. Perguntou como estava. Verificou o que tinha que verificar. Perguntou se já tinha tomado café e eu disse que não. Saiu. Eram umas 9 horas, alguém apareceu e perguntou se eu tinha tomado café, eu disse que não e ela saiu. Retornou, trocou a roupa de cama. Saiu. Eram 9:30 quando mais alguém apareceu, perguntou pelo café disse que não tinha chegado e logo saiu dizendo que iria buscar. Eram 10:10, olha só ... o café - da manhã - chegou. Tudo continuou do mesmo jeito até as 14:30, quando iniciou o horário de visitas e minha esposa apareceu. Fui tomar banho e mais uma surpresa, um choquezinho de leve durante o banho só para manter o nível de emoção da coisa. Conversamos bastante. Algumas pessoas ligaram. E, novamente, um segurança para educadamente solicitar a saída de minha esposa. O horário de visita havia acabado. Uma visita do médico a noite e nada mais de novo. Ele passou mais algumas informações, mais detalhadas, sobre a cirurgia.
Campinas, 20/07/2006
Amanheceu. A TV continuava ligada. Aquele dia acordei bem cedo. Acho que eram 5 horas. Havia dormido muito mal. Acordei diversas vezes durante a noite e demorava a pegar no sono novamente. Estava ansioso para sair daquele lugar. O médico falou que o tempo normal de internação, para o procedimento a que tinha sido submetido, seria de 48 horas e deveria, então, sair naquela manhã. Como sempre, apareceu algumas pessoas - mudas - pelo quarto e logo saía. Esperava pela médico. Ele só apareceu umas 8:55. Já chegou com uma bandeja com umas coisas lá. Olhou rapidamente e logo retirou o troço que estava preso no meu pescoço. Preencheu uns formulários, informou sobre as medicações que deveria tomar e disse que estava livre. uuufffaaaaaa!!! Uma enfermeira que entrou com ele, saiu dizendo que ligaria para minha esposa. Eu perguntei se queria o número. Ela disse que já tinha em alguma ficha. Quase 1 hora já tinha passado e minha esposa não aparecia. Tinha calculado que seriam necessários uns 40 minutos.
Saí do quarto, pela primeira vez, apesar do médico ter dito no dia anterior que poderia andar um pouco. Logo avistei uma pessoa, ela se aproximou dizendo:
Pessoa: Você esté de alta, né?
Eu: Estou esperando minha esposa chegar. Já ligaram para ela.
Pessoa: Ligaram ainda não. A gente não tem permissão para ligar para celular. Podemos ligar a cobrar?
Eu: Sim. Posso acompanhá-la?
Pessoa: Sim.
Falei com minha esposa e retornei para o quarto. Antes de chegar, encontrei outra enfermeira e ela disse: "Te esqueceram. Não foi?". Aquilo foi irritante. Pelo menos, parece que têm auto-crítica. Uns quarenta minutos depois ela apareceu. Conforme havia calculado. Falamos com algumas pessoas e logo saímos.
uuuuffffaaaaaa!!!
Só conseguia pensar em dizer uma coisa: "Isso fica muito feliz em sair daqui!".
O "Isso" diz respeito a como Andrew Martin (interpretado por Robin Williams), um robô com seu cérebro positrôico, se refere - pelo menos na parte inicial do filme, quando ainda não havia percebido que era dotado de personalidade - em o Homem Bicentenário.
Por que falei tudo isso? Huummmm ... precisava falar, ou melhor, escrever. Fiquei indignado com o atendimento prestado depois da cirurgia. Caso estivessem cuidando de máquinas ... como cuidam de humanos, bom ... vocês que leram aí ... deve ter ficado claro. Faltou, e muito, algo que chamam de humanização.
quinta-feira, julho 27, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Sei muito bem o q vc quis dizer André... Eu lutava pro povo falar comigo....
Ô mundinho!
Puxa, André, eu nem sabia que você havia feito algum procedimento hospitalar. Tá tudo tranqüilo, então?
Oi mano!
Achei bem legal sua iniciativa aqui. Assim poderemos desvendar alguns dos seus pensamentos. E, dessa forma, conhecer-te um pouco mais. Só fiquei indignada tb com o atendimento, mas graças a Deus já passou e vc está bem.
Beijão...
Estarei sempre aqui dando uma olhadinha...
* Beijos *
A pessoa sempre fica indignada com esse tipo de tratamneto dado aos pacientes. Mas qnd vc vê que um destes paciente é amigo seu.. a tristeza se junta à indignação e o sentimento de raiva é mt maior. Que bom que tudo isso já passou para vc, velho amigo. Abraços!
cara, esse tipo de relato realmente constrange. Eu não me assustaria se você estivesse relatando sua experiência em um hospital público e mal organizado. Mas o chato é ver que, nem mesmo pagando planos de saúde caríssimos, consegue-se garantir tranquilidade em momentos tão delicados. Ah, aposto que os 240,00 de diária a mais garantiriam à sua esposa apenas uma bela cadeirinha enferrujada ao lado da sua cama...
Postar um comentário